DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL E CARREIRA
Carreira é o caminho profissional
trilhado por uma pessoa no decorrer da sua trajetória. A carreira pode ser
entendida como uma sequência de funções e ocupações profissionais. Dutra (2019,
p. 11) sugere a seguinte definição: “carreira é uma sequência de atitudes e
comportamentos, associada com experiências e atividades relacionadas ao
trabalho, durante o período de vida de uma pessoa”.
Carreira
são as sequências de posições ocupadas e de trabalhos realizados durante a vida
de uma pessoa. Segundo Hall (2002) Apud
Dutra, (2019, p. 12): “o termo carreira tolera um excesso de significados. O
autor pontua quatro conotações distintas nas quais o termo é usado, tanto
popularmente quanto na ciência comportamental”: Essas quatro conotações são
apresentadas no quadro 1 a seguir:
QUADRO 1 – 4 CONOTAÇÕES PARA O TERMO
CARREIRA
1.
Carreira como avanço
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é
a visão que povoa o pensamento das pessoas sobre carreira. A mobilidade é
vertical em uma hierarquia organizacional com sequencia de promoções e
movimentos para cima.
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2.
Carreira como profissão
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uma
maneira também popular, mas menos comum, de enxergar carreiras é a de que
certas ocupações representam carreiras e outras não. Nessa visão seriam
consideradas carreira somente as ocupações que periodicamente são
submetidas a movimentos progressivos de status,
enquanto os trabalhos que normalmente não conduzem a um avanço progressivo
não são relacionados à construção de uma carreira.
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3.
Carreira como a sequencia de trabalhos durante a vida
|
nesta definição,
mais representativa para os escritores que tratam da ciência comportamental,
não há julgamento de valor sobre o tipo de ocupação, ou seja, a carreira
de uma pessoa é sua história ou a série de posições ocupadas,
desconsiderando os níveis ou tipo de trabalho. De acordo com essa visão,
todas as pessoas com histórias de trabalho têm carreiras.
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4.
Carreira como a sequencia de experiências relativas a funções ao longo da
vida
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Nesta
definição, também representativa para os escritores que tratam da ciência
comportamental, a carreira representa a maneira como a pessoa experimenta a
sequência de trabalhos e atividades que constituem sua história de
trabalho.
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FONTE:
DUTRA, (2019, p. 12).
Segundo
este mesmo autor em outra obra, a carreira pode ser pensada em degraus de
complexidade, ou seja, na medida em que a pessoa incorpora atribuições
(conjunto das funções e atividades executadas pela pessoa) e responsabilidades mais
complexas (conjunto das decisões exigidas da pessoa pela organização), está se
desenvolvendo e agregando mais valor para o meio onde se insere. (DUTRA, 2010).
Ou seja, quanto mais evoluímos, mais estudamos, mais aprendemos novas
competências, mais nos desenvolvemos profissionalmente e a tendência é que os
cargos ocupados mudem quanto ao grau de complexidade.
Para
entender essa equação, basta compreendermos que em uma trajetória de carreira,
iniciamos como estagiários e as atividades inerentes a este cargo são mais
simples, quase tarefeiras, o comportamento esperado é de um profissional
aprendiz que obedece regras e se enquadra em um escopo de funções pouco
exigentes. Nos primeiros anos de uma carreira, vamos aprendendo outros
conhecimentos, habilidade e atitudes que nos ajudam a evoluir e amadurecer.
Depois de determinado tempo, (que não tem como determinar qual é esse tempo,
visto que é diferente para cada pessoa), nos sentimos aptos e experientes a
ponto de desenvolver competências mais complexas e mais exigentes.
Agora,
vamos conversar um pouco sobre projeto profissional.
CONSTRUÇÃO
DO NOSSO PROJETO PROFISSIONAL
Um
projeto profissional começa com um sonho, já falei sobre isso em outro tema
dessa nossa disciplina. O sonho, o desejo de realização, a admiração à alguém
pela carreira que ela desempenha, fazem com que nossa vontade surja. Já
comentamos também que sonho e desejo faz parte da mente subjetiva. Para
transformar sonho em realidade é preciso planejar.
Os
propulsores da carreira são características que possuímos e que nos permitem
ampliar a complexidade do nosso trabalho e o valor das nossas contribuições
para a empresa e para o meio social em que vivemos. Essas características são
trabalhadas por Schein (1990) Apud Dutra (2010) como habilidades naturais e
valores que influenciam as pessoas em suas escolhas de carreira e na forma de
desenvolvê-las.
As
pessoas devem conduzir suas carreiras em ambientes cada vez mais voláteis. As
pessoas que o fazem assumem um posicionamento a partir de seus valores,
adaptando-se às necessidades do mercado e/ou da organização sem perder sua
coerência e consistência. Hall (2002) chama esse posicionamento de carreira
proteana, que é conduzida pela pessoa, e não pela organização. Baseia-se em
objetivos estabelecidos pelo próprio indivíduo, abrangendo toda a extensão de
sua vida e sendo norteada pelo sucesso psicológico em vez do sucesso objetivo,
como salário, posição na empresa ou poder. (DUTRA, 2010).
Para
construção de um projeto profissional, poderíamos destacar os seguintes pontos
de reflexão: consciência do propósito da carreira e do desenvolvimento
profissional; ações de curto (normalmente 1 ano) e longo (normalmente 5 anos)
prazos; autoconhecimento e respeito próprio; diálogo entre a carreira
profissional e as demais dimensões da vida da pessoa, (tais como: família, saúde,
amigos, sociedade, espiritualidade etc.); monitoramento dos propósitos, da
carreira e do desenvolvimento profissional.
Para
viabilizar e/ou sustentar nosso projeto profissional, podemos enumerar as
seguintes ações sintetizadas no quadro 2 a seguir:
QUADRO 2 – AÇÕES PARA SUSTENTAR NOSSO
PROJETO PROFISSIONAL
Discussão
de nossos propósitos e objetivos profissionais
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quando
conversamos com pessoas de nossa confiança sobre os nossos propósitos e
objetivos profissionais, além de amadurecê-los, construímos alianças
importantes para nos ajudar a realizá-los.
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Construção
de alianças para o desenvolvimento profissional
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o
desenvolvimento das pessoas está intimamente ligado à incorporação de
atribuições e responsabilidades de maior complexidade. De um lado, temos a
ação da própria pessoa e, de outro lado, a necessidade de ela obter o espaço
necessário na organização e/ou no contexto em que se insere para poder
exercitar ações ou decisões de maior complexidade. Esse espaço é conquistado
através do relacionamento e realizações da pessoa atuando individualmente ou
em grupo. Quanto maior a complexidade, maior é a prevalência da produção
coletiva em detrimento da produção individual. A forma como construímos e
cumprimos compromissos assumidos com outras pessoas determina nossa
credibilidade e nossa reputação profissional.
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Construção
e sustentação de redes de relacionamento
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ao
longo de nossa experiência profissional, construímos diferentes redes. O
posicionamento das pessoas em relação às redes de relacionamento varia em
razão da personalidade, cultura social, socialização, habilidades,
necessidades pessoais e profissionais etc. Em qualquer situação, as redes se
tornam cada vez mais importantes em um contexto com alto nível de conexão
entre pessoas e em rápida transformação. Elas possibilitam uma atualização
mais rápida e, também, tornam-se um espaço para discussão e aprofundamento em
relação a determinados temas, situações ou problemas.
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Desenvolvimento
de interlocutores de carreira
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encontrar
pessoas com as quais podemos conversar sobre o nosso projeto profissional não
é simples. Eles são chamados mentores, o ideal é que seja uma pessoa que vive
um momento parecido com o nosso, de quem gostemos e por quem tenhamos
respeito. Recomenda-se que não seja um colega da organização, que em um
momento é grande amigo e no momento seguinte pode estar disputando uma
posição conosco. Recomenda-se que não seja alguém muito ligado a nós
afetivamente, porque essas pessoas normalmente não têm distância crítica para
nos enxergar, nem familiaridade com a realidade profissional que vivemos. Em
geral, a pessoa que escolhemos como interlocutora de carreira também nos
elege como interlocutor. Os encontros para conversa sobre carreira devem ser
informais. Uma das vantagens de um interlocutor de carreira é termos alguém
com quem, regularmente, trocar ideias sobre nossas intenções e dúvidas,
porém, a maior vantagem é quando vivemos uma crise de carreira. Se levarmos
essa crise para dentro da organização, podemos ser mal interpretados; se
levarmos para pessoas próximas de nós afetivamente, elas poderão fazer pouco.
A contratação de profissionais especializados leva algum tempo para gerar os
resultados necessários. Podemos ter acesso imediato ao(s) nosso(s)
interlocutor(es) de carreira.
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FONTE:
(DUTRA, 2010, p. 25)
Então,
percebe-se que: refletir sobre nossos propósitos, fazer e consolidar networking, fazer parcerias e alianças e
encontrar mentores podem ser ações estratégicas para sustentar nosso projeto. A
seguir vamos conhecer os tipos de carreira.
TIPOS
DE CARREIRA
Vamos
conhecer os conceitos dos três tipos de carreiras: organizacional, proteana e
carreira sem fronteiras.
Carreira Organizacional
Até
os anos 1990, as carreiras eram em sua maioria do tipo organizacional. As
chamadas carreiras organizacionais
tinham as seguintes características:
o ambiente é
considerado estável e não dinâmico; a economia é subordinada às grandes
firmas, que geram oportunidades de emprego; mudanças nas firmas causam
mudanças nas carreiras: há interdependência entre empresa e pessoa; as
grandes empresas podem oferecer carreiras para toda a vida de uma pessoa; o
empreendimento é uma das opções e não um elemento necessário ao
comportamento pessoal de carreira; empregados usualmente são considerados
parte da organização enquanto outros, como fornecedores, clientes e
contratantes estão fora das fronteiras; as estruturas de carreira são
predeterminadas pela companhia, o processo não é dirigido pelos indivíduos.
DUTRA (2019, p. 17)
A
aprendizagem nesse tipo de carreira se dá mais internamente à organização
que no ambiente externo. Peiperl e Arthur (2000) Apud Dutra (2019) afirmam que
as carreiras organizacionais proveem oportunidades para a transferência
interfuncional de conhecimento, através da troca de informações dentro da
própria companhia.
Atualmente,
movido pelos novos paradigmas, pelas mudanças nas organizações, mudanças de
comportamento dos trabalhadores, mas também pelas necessidades das
organizações de se manterem competitivas com quadros funcionais enxutos e
flexíveis, surgem outras abordagens que propõem novas formas de encarar a
gestão de carreiras e que enfatizam a necessidade de que a pessoa gerencie sua
própria carreira. Essas abordagens receberam os nomes de carreira proteana e de carreira sem fronteiras.
Carreira proteana
Hall
(2002), o autor proponente da carreira proteana, afirma que hoje o tradicional
contrato de carreira, com promessas de segurança e emprego de longo prazo, é
substituído por contratos de curto prazo, renovados diariamente com base em
necessidades correntes e em performance. A carreira proteana, condizente com
essa mudança de visão sobre os contratos, apresenta as seguintes
características principais: “relacional:
baseada no compromisso mútuo de longo prazo e na relação de confiança entre
indivíduo e organização e transacional
baseada em trocas utilitárias, de curto prazo, de benefícios e
contribuições entre indivíduos e organização”. (HALL Apud DUTRA, 2019, p.
16).
Carreira sem fronteiras
As
carreiras sem fronteiras nascem das novas configurações de emprego atuais, onde
o conceito de trabalhar não é necessariamente ligado à ter um emprego fixo, com
carteira assinada e uma empresa estruturada. Para assimilar melhor a diferença
entre as carreiras proteanas e sem fronteiras, acompanhe o quadro 3 a seguir:
QUADRO 3 - DIFERENÇA ENTRE CARREIRA
PROTEANA E CARREIRA SEM FRONTEIRAS
CARREIRA PROTEANA
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CARREIRAS SEM
FRONTEIRAS
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Autoinvenção,
autonomia, autodireção, habilidade para aprender, habilidade para
redirecionar a carreira e a vida. A carreira é gerenciada pela pessoa e não
pela organização.
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A
ênfase mais proeminente aparece quando a carreira se move através de
fronteiras de empregadores distintos (exemplo: profissionais de alta
tecnologia do Vale do Silício).
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Habilidade
para construir relações. A força motora desse tipo de carreira são as
necessidades pessoais e o sucesso psicológico.
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Uma
segunda forma de carreira sem fronteira aparece quando esta possibilita a
comercialização do trabalho de forma autônoma ou de forma complementar
como, por exemplo: o carpinteiro, que pode atuar fora da empresa vendendo de
forma autônoma seu trabalho ou o profissional que pode atuar como professor.
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A
carreira é uma série de experiências ao longo da vida: qualificações,
aprendizados, transições e mudanças de identidade (a idade da carreira
conta e não a idade cronológica). O desenvolvimento é obtido através do
aprendizado contínuo, autodirecionado, relacional e encontrado em desafios
de trabalho.
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Quando
uma carreira é sustentada por networks
ou informações externas (exemplo: corretor de imóveis).
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O
desenvolvimento não é (necessariamente): treinamento formal, retreinamento
e mobilidade para cima. A organização provê: tarefas desafiadoras, desenvolvimento
de relações, informações e outros recursos de desenvolvimento.
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Quando
tradicionais fronteiras organizacionais de carreira, que envolvem
explicitamente discurso hierárquico e princípios de progresso, são
quebradas, como, por exemplo: profissionais técnicos de alto nível,
estimulados a ampliar sua rede de relacionamentos junto à comunidade
científica, que passam a desempenhar papel fundamental em discussões estratégicas.
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Os
ingredientes para o sucesso vêm mudando: de know-how para learning-how. De
segurança no emprego para empregabilidade. De carreiras organizacionais para
carreiras proteanas. De ser humano do trabalho para ser humano integral.
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Quando
uma pessoa rejeita oportunidades de carreira por razões pessoais ou
familiares.
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Quatro
dimensões são primordiais: 1. Performance de trabalho: a partir do critério
pessoal (e não organizacional) do que é uma boa performance em termos de
salário, posição profissional etc. 2. Atitudes: a atitude pessoal exerce
uma importante função nas escolhas de carreira. 3. Identidade: baseada em
autorrespeito e sinais pessoais sobre o que a pessoa quer fazer. 4.
Adaptabilidade: flexibilidade no trabalho e desenvolvimento de competências
pessoais que têm validade no mercado.
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Na perspectiva das carreiras sem fronteiras,
as pessoas são responsáveis por suas carreiras futuras, o que ocorre com o
cultivo de networks e com a busca
constante de acesso ao conhecimento e recursos de outras pessoas.
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FONTE:
(DUTRA, 2010, p. 21).
REFERÊNCIAS DESTE TEXTO:
DUTRA, Joel Souza. Gestão de carreiras: a pessoa, a organização e as oportunidades. - 2. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
_________________. Gestão de carreiras na empresa contemporânea. São Paulo: Atlas, 2010.
Bom vou terminando por
aqui.
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